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quinta-feira, abril 25, 2013

A Velha Ladainha do Porto de Luís Correia


Publicado no  Diário do Povo em 25/04/2013

Roger Jacob – Economista
mais textos em www.rogerjacob.com.br

Estamos sendo novamente bombardeados por notícias sobre o porto de Luís Correia, inclusive que no final do ano já teria navio atracado. Dá a impressão de que sempre que faltam notícias para a assessoria de comunicação do governo (ou de outro político com mandato) surge o porto na imprensa. São tantos factóides nos últimos 100 anos sobre esse projeto (e tantos outros) que já não conseguimos sentir alegria ao ler essas notícias alvissareiras. Vivemos de um tempo futuro que nunca chega.

Mas é uma pena que seja assim. Nos últimos séculos a concentração de capital e poder, grosso modo, vincula-se com terras férteis e meios de transporte de baixo custo. Temos, em tese, ambos: o estado é uma das fronteiras da agricultura nacional e temos um rio perene de 1334Km de extensão que já foi amplamente usado para navegação até meados do século passado.

O Piauí é um estado extenso, são cerca de 1200 kms para se ir de carro de Luís Correia a Cristalândia. Talvez por isso, pensar nosso estado como um todo vem sendo um problema histórico. Há uma clara desconexão entre o sul e o norte, inclusive com um movimento separatista de parte do sul. Acredito, porém, que somos unidos pelos 1300 Kms do rio Parnaíba, que faz dos destinos do sul e norte uma coisa só.

Vivemos o início de um ciclo do agronegócio com a soja, hoje no sul, mas com extensas áreas em todo o estado que também são adequadas à agricultura industrial. Além disso, o Piauí é uma “província mineral”, com grandes reservas de níquel, cobre, ferro, gás e petróleo que somente agora começam a ser pesquisadas.

Essas novas atividades possuem uma relação valor/volume baixa, de modo que um custo logístico barato é fundamental para manter a lucratividade desses setores. Apesar de custar 30 vezes menos transportar cargas por hidrovias do que por estradas, optamos pelas rodovias. Para levar a soja do norte do Tocantins até a China, nosso maior cliente, custa o dobro quando comparado ao custo dos estados da região sul do país. Enquanto a demanda de soja estiver crescente, essa ineficiência será amenizada, mas quando as compras da China se estabilizarem e os preços caírem, os produtores terão sérios problemas. A agroindústria e a mineração têm um enorme poder de impacto na economia do estado, mas podemos perder uma boa parte do potencial se não conseguirmos montar uma estratégia adequada para o escoamento da produção.

Talvez algumas pessoas se sintam atendidas pela ferrovia Transnordestina, que liga nosso cerrado aos portos do Ceará e Pernambuco, mas ainda assim, se pensarmos na possibilidade fantástica e factível da hidrovia do Parnaíba-Balsas, que transformaria essa rede de canais no principal eixo de escoamento da produção mineral e safras agrícolas do meio-norte e até de grande parte do centro-oeste considerando que o rio Tocantins não está tão distante assim do rio Balsas. Essa hidrovia poderia também ser interligada aos rios Itapecuru, Mearim, Grajaú no Maranhão. Dessa maneira o porto de Luís Correia seria, mais do que simplesmente viável, uma necessidade e mudaria o cenário econômico de toda a nossa região.

O PAC 1 destinou US$ 27 bi e o PAC 2 US$ 57 bi para obras de logística, mesmo assim não conseguimos uma articulação mínima para defender a hidrovia e o porto. No Plano Plurianual do Estado a hidrovia não é mencionada. O Plano Nacional de Logística de Transporte (PNLT) está sendo elaborado desde 2005, qual terá sido a organização do governo do estado para defender os nossos pontos estratégicos, pois no relatório de 2011 a hidrovia do Parnaíba é descartada da lista de investimentos prioritários. Faz sentido, se nós mesmo não acreditamos...
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