Fui convidado a participar da audiência pública sobre o Proerd hoje na Câmara, abaixo reproduzo minhas colocações.
"(Saudação de abertura)
Quero
inicialmente agradecer ao Ronda Cidadão o convite para participar
dessa audiência pública sobre o Proerd. Venho aqui como
representante do PPSJ que atua há mais de 75 anos na melhoria do
ambiente de desenvolvimento da infância de nossa cidade.
Vejo
com imensa preocupação os reflexos para a infância do atual quadro
de violência e acredito que precisamos escutar o que esses senhores
estão nos dizendo: vivemos uma grave crise e devemos construir uma
estratégia adequada para superar esse momento. Nossa inoperância
resultará no agravamento da situação até que ela se torne
incontrolável.
É
louvável que a Polícia Militar seja a portadora dessa mensagem. Eu
vejo em Parnaíba um esforço muito grande dessa corporação para
superar a deficiência de efetivo e estrutura. Esse esforço merece
nosso respeito e admiração.
Conheci
o Proerd em Parnaíba através do Soldado Eudes, seu empenho e amor
pelo Proerd é algo digno de nota e fiquei feliz em poder contribuir
nesse esforço da corporação e dos policiais que se dedicam com
tanto afinco à essa ideia.
A
filosofia de aproximar o policial militar da comunidade, presente no
Ronda Cidadão, e das crianças, escolas e famílias como faz o
Proerd, consiste em uma prática inteligente para lidar com o
crescente consumo de drogas em nossa cidade. Nesse sentido acho
acertado considerarmos como podemos expandir para mais escolas e como
podemos encaixar o Proerd dentro do horário integral previsto na
Programa Mais Escola, um dos eixos norteadores da política educacional do país.
Essa
iniciativa tem de fazer parte de uma estratégia maior. O princípio tem de ser o mesmo que a PM teve ao patrocinar o Proerd: não
é possível resolver essa onda de violência e crescimento explosivo
do consumo de drogas sem ampliar os atores envolvidos e sem o
entendimento do que é violência e como se supera.
É
preciso uma ação articulada dos governos e sociedade.
Precisamos
entender que a estrutura de segurança tem sua capacidade de agir
ocupada com a mediação de conflitos que prescindem da presença
policial. Essa dinâmica limita sua capacidade de investigar e
combater o crime, o tráfico de drogas e outros ilícitos que exigem
de fato sua intervenção.
O
PPSJ tem algumas convicções sobre esse tema:
Primeiro,
precisamos investir na construção da resiliência em nossas
crianças; é fato que crianças mais resilientes são menos
suscetíveis à comportamentos perigosos como o consumo de drogas e
envolvimento em gangues. Para isso precisamos entender o tripé
família, escola e comunidade como fator protetor que diminui a
possibilidade das crianças sofrerem violência.
Segundo,
acreditamos que é de fundamental importância capacitar os
professores a reconhecerem e lidarem com crianças vítimas de
violência e usuárias de drogas. Isso parte da constatação que são
eles os que convivem mais tempo com as crianças à parte de suas
famílias.
Terceiro,
precisamos entender que o uso de violência é uma estratégia
perante um conflito, portanto precisamos educar nossos jovens para
serem capazes de construir outras estratégias para resolução dos
conflitos que terão em suas vidas. Assim, defendemos a
inclusão no currículo das escola da educação para prevenção da
violência, que é uma abordagem que já se provou válida em diversos
países.
Quarto,
precisamos aprimorar o entendimento da violência em nossa cidade: não há dado de qualidade que permita uma análise profunda sobre a
questão. Sem um banco de dados denso e confiável, não
conseguiremos desenhar propostas reais de enfrentamento e superação.
Quinto,
sem uma ação articulada das forças de segurança, serviços de
saúde, educação e social, além da sociedade e suas organizações,
não se conseguirá uma atuação efetiva na questão da violência
em nossa cidade.
Essa articulação exige uma transformação
cultural, não somente dos servidores dessas instituições, mas
também dos formuladores de políticas pública, que terão de prover
o ambiente legal e recursos financeiros que permitirão essa
articulação e terão, para isso, que superar velhos preconceitos
que sempre são populares.
O
PPSJ tem interesse nesse tema que tem sido objeto de nosso estudo
intenso, diante da preocupação pelo impacto desse ambiente violento
no desenvolvimento das crianças.
Temos
muita contribuição à dar. Ainda em novembro de 2012, trouxemos um
especialista renomado internacionalmente para começar a discutir a
questão aqui na cidade e queria encerrar minhas considerações
citando as conclusões de seu estudo e prática:
“Não existe uma receita única
para reduzir a violência, mesmo em uma única
cidade.
Experiências exitosas contra a
violência a curto prazo são requisito mínimo
para reduzir o medo da população.
Poucos programas estratégicos
coordenados entre si e em áreas críticas são
a prioridade.
Capacidade real de gerar uma
liderança no terreno é fundamental para obter o
impacto nas ações.
As ações devem ser coordenadas
horizontal e verticalmente.” (in Conflitos Urbanos, Jorge Laffitte)
Novamente meu muito obrigado!"