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quarta-feira, abril 03, 2013

A energia que nos falta...

Publicado no Jornal O Dia na edição de 11/04/2013

Virou lugar comum reclamar da Eletrobrás Piauí, não é para menos, foram em média 41 horas e 50 minutos sem luz em 2011. Em Teresina foram 31 horas sem luz ao ano e no restante do estado, 46 horas sem luz. Nosso vizinho Maranhão teve 21 horas de interrupção e o Ceará, 8 horas.

No interior, um cidadão pode ter certeza de uma coisa: faltará luz, em média, 3 vezes por mês, resultando em 4 horas mensais sem energia, isso se não vier tudo de uma vez só, como as 26 horas sem energia em Parnaíba em 2009.

Os mais abastados já possuem geradores e até as pequenas e charmosas pousadas do must do litoral, Barra Grande, se viram obrigadas a gastar rios de dinheiro para se adaptarem a essa dura realidade e poderem atender sua clientela. Imagine falar numa política de atração de indústrias! O empresário teria de montar sua fábrica já com a própria geração de energia, pois não somente falta muito, como não há capacidade de aumentar o fornecimento, como demonstra o caso do shopping na capital.

Mas a coisa melhorou: em 2005 eram 52 horas e 13 minutos sem energia, uma decréscimo de 20% em 7 anos, ou espantosos 3,1% de melhora de eficiência ao ano, a continuar nesse ritmo em 2037 a empresa alcançará a meta da ANEEL para 2012 de interrupção máxima de 16 horas.

Some-se a isso uma certa atitude de descaso com nosso sofrimento, a Câmara Municipal de Parnaíba convocou-a para uma audiência pública após um apagão de 12 horas ocorrido em pleno carnaval desse ano; não foi ninguém da empresa, mas faltou luz três vezes. Parece piada. Não é.

Quando se liga para o 0800 as informações são imprecisas, existe uma lastimável procrastinação no ressarcimento dos prejuízos causados aos consumidores pela condição deplorável da rede e a revisão tarifária, sempre para cima, é feita justamente na época de maior consumo de energia pelos moradores da capital, durante o famoso B-R-O-Bró. Não é de se estranhar a raiva incontida sentida pelo piauiense, afinal ele paga uma das maiores tarifas de energia do país e ainda assim é tratado como cliente de segunda categoria.

Surpreende-se mais ainda quem resolver olhar os relatórios oficiais da empresa. A Eletrobrás Piauí tem um bilhão em prejuízos acumulados, isso mesmo, você não leu errado, um bilhão de Reais! Se ela vendesse todo seu patrimônio pelo preço que está no balanço e recebesse tudo que está lá, ainda assim faltariam 185 milhões para tapar o buraco. Esse enorme prejuízo em uma empresa monopolista que tem 1 milhão de clientes cativos que compram energia somente dela, chova ou faça sol. Mais, que fixa seu preço de comum acordo com a agência reguladora baseado em sua própria planilha de custos.

Com receita líquida, já sem os impostos, de 800 milhões por ano, a Cepisa é uma grande empresa que sofre de má gestão crônica. No ano de 2011 apareceu um raro lucro de 97 milhões, mas a regra é terminar com prejuízo. Como pode? Fazendo algumas contas grosseiras vemos que ela compra energia a R$ 109,66/Mwh e vende, em média, a R$ 349,85, impressionantes 3,2 vezes mais! É de deixar qualquer comerciante salivando.

A perda também é enorme, a empresa compra 3,5 milhões de Mwh para entregar 2,3 milhões de Mwh, ou seja 1,18 milhões de Mwh vão para o lixo. A perda era de 35% em 2005 e 33,03% em 2011, outros 7 anos sem nenhuma melhora. A empresa tem de comprar uma vez e meia mais energia do que precisa para entregar aos seus clientes e nada é feito! Eu fico surpreso de dizerem que toda essa perda é de desvio/roubo dos consumidores, então não existe perda nessa rede sucateada? Impressionante. De qualquer forma ambos têm de ser resolvidos.

A concessão dada à Eletrobrás para distribuição de energia no Piauí acaba em 7 de julho de 2015, podendo ser prorrogada por mais 20 anos. Nesse cenário medíocre, podemos aceitar tal renovação? Pagamos um custo de energia altíssimo, convivemos com um serviço de padrão ruim e ainda somos intimados a aceitar tudo isso sem questionar.

A Eletrobrás deveria apresentar para a sociedade um plano crível de melhoria continuada e redução do custo e das interrupções. Esse plano teria de ser monitorado pelo governo estadual e pelos governos municipais. Mas terão os nossos líderes vontade e coragem?

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