Virou lugar comum
reclamar da Eletrobrás Piauí, não é para menos, foram em média
41 horas e 50 minutos sem luz em 2011. Em Teresina foram 31 horas sem
luz ao ano e no restante do estado, 46 horas sem luz. Nosso vizinho
Maranhão teve 21 horas de interrupção e o Ceará, 8 horas.
No
interior, um cidadão pode ter certeza de uma coisa: faltará luz, em
média, 3 vezes por mês, resultando em 4 horas mensais sem energia,
isso se não vier tudo de uma vez só, como as 26 horas sem energia
em Parnaíba em 2009.
Os mais
abastados já possuem geradores e até as pequenas e charmosas
pousadas do must do litoral, Barra Grande, se viram obrigadas a
gastar rios de dinheiro para se adaptarem a essa dura realidade e
poderem atender sua clientela. Imagine falar numa política de
atração de indústrias! O empresário teria de montar sua fábrica
já com a própria geração de energia, pois não somente falta
muito, como não há capacidade de aumentar o fornecimento, como
demonstra o caso do shopping na capital.
Mas a
coisa melhorou: em 2005 eram 52 horas e 13 minutos sem energia, uma
decréscimo de 20% em 7 anos, ou espantosos 3,1% de melhora de
eficiência ao ano, a continuar nesse ritmo em 2037 a empresa
alcançará a meta da ANEEL para 2012 de interrupção máxima de 16
horas.
Some-se a
isso uma certa atitude de descaso com nosso sofrimento, a Câmara
Municipal de Parnaíba convocou-a para uma audiência pública após
um apagão de 12 horas ocorrido em pleno carnaval desse ano; não foi
ninguém da empresa, mas faltou luz três vezes. Parece
piada. Não é.
Quando se
liga para o 0800 as informações são imprecisas, existe uma
lastimável procrastinação no ressarcimento dos prejuízos causados
aos consumidores pela condição deplorável da rede e a revisão
tarifária, sempre para cima, é feita justamente na época de maior
consumo de energia pelos moradores da capital, durante o famoso
B-R-O-Bró. Não é de se estranhar a raiva incontida sentida pelo
piauiense, afinal ele paga uma das maiores tarifas de energia do país
e ainda assim é tratado como cliente de segunda categoria.
Surpreende-se
mais ainda quem resolver olhar os relatórios oficiais da empresa. A
Eletrobrás Piauí tem um bilhão em prejuízos acumulados, isso
mesmo, você não leu errado, um bilhão de Reais! Se ela vendesse
todo seu patrimônio pelo preço que está no balanço e recebesse
tudo que está lá, ainda assim faltariam 185 milhões para tapar o
buraco. Esse enorme prejuízo em uma empresa monopolista que tem 1
milhão de clientes cativos que compram energia somente dela, chova
ou faça sol. Mais, que fixa seu preço de comum acordo com a
agência reguladora baseado em sua própria planilha de custos.
Com
receita líquida, já sem os impostos, de 800 milhões por ano, a
Cepisa é uma grande empresa que sofre de má gestão crônica. No
ano de 2011 apareceu um raro lucro de 97 milhões, mas a regra é
terminar com prejuízo. Como pode? Fazendo algumas contas grosseiras
vemos que ela compra energia a R$ 109,66/Mwh e vende, em média, a R$
349,85, impressionantes 3,2 vezes mais! É de deixar qualquer
comerciante salivando.
A perda
também é enorme, a empresa compra 3,5 milhões de Mwh para entregar
2,3 milhões de Mwh, ou seja 1,18 milhões de Mwh vão para o lixo. A
perda era de 35% em 2005 e 33,03% em 2011, outros 7 anos sem nenhuma
melhora. A empresa tem de comprar uma vez e meia mais energia do que
precisa para entregar aos seus clientes e nada é feito! Eu fico
surpreso de dizerem que toda essa perda é de desvio/roubo dos
consumidores, então não existe perda nessa rede sucateada?
Impressionante. De qualquer forma ambos têm de ser resolvidos.
A
concessão dada à Eletrobrás para distribuição de energia no
Piauí acaba em 7 de julho de 2015, podendo ser prorrogada por mais
20 anos. Nesse cenário medíocre, podemos aceitar tal renovação?
Pagamos um custo de energia altíssimo, convivemos com um serviço de
padrão ruim e ainda somos intimados a aceitar tudo isso sem
questionar.
A
Eletrobrás deveria apresentar para a sociedade um plano crível de
melhoria continuada e redução do custo e das interrupções. Esse
plano teria de ser monitorado pelo governo estadual e pelos governos
municipais. Mas terão os nossos líderes vontade e coragem?
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